quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O casamento temporário

do livro "O choque do futuro", de Alvin Toffler, pag 206

É esta mudança nas possibilidades estatísticas do amor que explica as altas taxas de divórcio e separação na maior parte das sociedades tecnológicas. Quanto mais rápido o ritmo de mudança e mais longo o tempo de vida, piores se tornam estas possibilidades. Alguma coisa acaba “dançando”.

É claro que, para falar a verdade, alguma coisa “já dançou” – e é a velha insistência no conceito de permanência. Milhões de homens e mulheres hoje adotam o que lhes parece ser uma estratégia sensível e conservadora. Em vez de optar por alguma variedade meio “pirada” de família, casam-se convencionalmente, tentam fazer com que o casamento “funcione” e então, quando os caminhos dos companheiros divergem além de um ponto aceitável, se divorciam ou se separam. A maior parte segue em frente, na busca de um novo companheiro cujo estágio de desenvolvimento, naquele momento, se encaixe com o seu.

À medida que as relações humanas se tornam mais transitórias e modulares, a busca do amor se torna, no mínimo, mais frenética. Mas as expectativas temporais mudam. À medida que o casamento convencional demonstra ser cada vez menos capaz de cumprir com a promessa de amor eterno, portanto, podemos prever uma aceitação pública aberta dos casamentos temporários. Em vez de se casar “até que a morte os separe”, os casais entrarão no matrimônio sabendo de saída que o relacionamento provavelmente terá curta duração.

Saberão, também, que quando os caminhos do marido e da mulher divergirem, quando houver uma discrepância muito grande nos estágios de desenvolvimento, então é a separação – sem choques nem constrangimento, talvez até sem um pouco da dor que acompanha o divórcio. E quando a oportunidade se apresentar se casarão outra vez... e outra vez... e mais outra.

O casamento serial – o padrão de casamentos temporários sucessivos – vem a calhar para a Era da Transitoriedade, na qual todos os relacionamentos do homem, todos os seus laços com o meio ambiente estão tendo sua duração reduzida. É o crescimento natural, inevitável, de uma ordem social em que os automóveis são alugados, as bonecas trocadas e os vestidos descartados após um único uso. É o principal padrão de casamento para amanhã.

(...) Mesmo os jovens, que buscam mais apaixonadamente um envolvimento profundo com pessoas e causas, reconhecem a força do impulso para a transitoriedade. Prestem atenção, por exemplo, ao que diz uma jovem negra norte-americana, lutadora na causa dos direitos civis, ao descrever sua atitude para com o tempo e o casamento: “No mundo dos brancos, o casamento vem sempre com um ‘the end’ – como num filme de Hollywood. Eu não entro nessa. Não consigo me ver prometendo entregar minha vida toda. Eu posso querer me casar agora. Mas e no ano que vem? Isto não é desrespeito pela instituição (do casamento), e sim o mais profundo respeito. No Movimento (de Direitos Civis), você precisa ter o sentido do temporário – de fazer uma coisa o melhor que puder enquanto dura. Nos relacionamentos tradicionais, o tempo é uma prisão.” (...)

Um comentário:

  1. sempre achei errado o casamento. acaba aprisionando, a rotina esmaga e uma hora 'enjoa'. se amor se resume no tempo que você aguenta com uma pessoa então eu não sei o que é amor. mas também não concordo que tudo é tão transitório e 'de plástico', não acredito no amor que dura até segunda-feira só. tem que ter um meio termo. amor, queira ou não, é tradicional, e dizendo isso entendo 'tradicional' como 'egoísta', no sentido de que quando gostamos de alguém realmente é inevitável procurar uma estabilidade, um relacionamento mais sério e "adulto". não é assim "então é a separação – sem choques nem constrangimento, talvez até sem um pouco da dor que acompanha o divórcio". isso é tolo, entrar num relacionamento já pensando que vai durar certo tempo e que é inevitável terminar e isso e aquilo. não acho que tenhamos que esperar que dure pra sempre, mas acho que devemos nos jogar de corpo e alma em cada relacionamento pensando sim, que ele é eterno. a dor do término faz parte da vida, faz parte do aprendizado sofrer. e "que seja eterno enquanto dure".

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