quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

As poucas chances do amor

trecho do livro de previsões "O Choque do Futuro", de Alvin Toffler; pag 205

As minorias fazem experiências; as maiorias se agarram às formas do passado. Pode-se dizer com segurança que um grande número de pessoas se recusará a rejeitar a idéia convencional do casamento ou das formas familiares comuns. Elas, sem duvida, continuarão em busca da felicidade dentro do formato ortodoxo. No entanto, ao final, até mesmo elas serão forçadas a inovar, pois as chances contrárias ao sucesso podem se mostrar surpreendentes.

O formato ortodoxo pressupõe que dois jovens irão “descobrir” um ao outro e se casar. Pressupõe que os dois preencherão certas necessidades psicológicas um dói outro, e que ambas as personalidades se desenvolverão no decorrer dos anos, mais ou menos in tandem, de forma que continuem a preencher as necessidades mútuas. Pressupõe, mais ainda, que esse processo durará “até que a morte os separe”.

Estas expectativas estão profundamente embutidas em nossa cultura. Já não é mais respeitável, como foi um dia, casar-se por outro motivo que não o amor. O amor mudou, de uma preocupação periférica da família para sua justificativa primária. De fato, a busca do amor através da vida em família se tornou, para muitos, o próprio objetivo da vida.

O amor, no entanto, se define em termos desta noção de crescimento compartilhado. É visto como uma bela rede de necessidades complementares, fluindo de um para o outro, preenchendo os amados, e produzindo sentimentos de calor, ternura e devoção. Maridos infelizes costumam se queixar que “as esposas ficaram para trás” em termos de crescimento social, cultural ou intelectual. Diz-se dos que compartilham casamentos bem-sucedidos que eles “cresceram juntos”.
Esta teoria do amor, a do “desenvolvimento paralelo”, é endossada por conselheiros matrimoniais, psicólogos e sociólogos. Assim, o sociólogo Nelson Foote, especialista em problemas de família, diz que a qualidade do relacionamento entre marido e mulher depende “do grau de paralelismo em suas fases de desenvolvimento distinto porém comparado”.

Se o amor é um produto do crescimento compartilhado, no entanto, e se vamos medir o sucesso no matrimônio pelo grau com que o desenvolvimento paralelo ocorre, é possível fazer uma previsão incisiva e terrível sobre o futuro.

É possível demonstrar que, mesmo numa sociedade relativamente estagnada, as chances matemáticas se colocam pesadamente contra as possibilidades de um casal vir a alcançar esse ideal de crescimento paralelo. As chances de sucesso positivamente despencam, no entanto, quando a taxa de mudança na sociedade se acelera, como está acontecendo agora. Numa sociedade em rápida mutação, em que muitas coisas mudam, não uma vez, mas repetidamente, em que o marido sobe e desce uma grande variedade de patamares econômicos e sociais, em que a família se encontra repentinamente dissociada do lar e da comunidade, em que os indivíduos cada vez mais se afastam dos pais, de sua religião de origem e de seus valores tradicionais, será quase um milagre se duas pessoas se desenvolverem a um ritmo que possa ao menos ser chamado de comparável.

Se, ao mesmo tempo, a expectativa média de vida crescer de, digamos, 50 para 60 anos, desta forma ampliando o intervalo durante o qual esta realização acrobática de um desenvolvimento paralelo supostamente deve ser mantida, as chances contra o sucesso se tornam absolutamente astronômicas. Assim, Nelson Foote escreve com uma malícia muito suave: “Esperar que um casamento dure indefinidamente, sob as condições modernas, é esperar um bocado.” Esperar que o amor dure indefinidamente é esperar ainda mais. A transitoriedade e a inovação se juntaram numa conspiração contra ele.

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