quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A fórmula do amor eterno pt.4

A descoberta das alterações químicas no cérebro causadas pela paixão abre uma nova possibilidade: criar no futuro drogas que possam agir sobre esses circuitos cerebrais e ajudar a aplacar a dor de um rompimento ou até, quem sabe, fazer alguém se apaixonar. A hipótese foi levantada na última semana em um artigo na revista científica Nature do bioquímico Larry Young, pesquisador de genética comportamental da Universidade Emory, nos Estados Unidos. “Drogas que manipulem os sistemas cerebrais para aumentar ou diminuir o amor podem não estar distantes”, escreve. Young lembra que medicamentos como o Viagra, usado para tratar disfunção erétil masculina, e o antidepressivo Prozac já atuam sobre algumas das substâncias também envolvidas no amor e na paixão. E se pergunta se alguém acharia ruim contar com drogas que manipulem esses sentimentos. “Afinal, o amor é insanidade”, escreve.

Os estudos que retratam o funcionamento do cérebro confirmam a aura de “sentimento que foge à razão” conferida à paixão. A antropóloga Helen Fisher, a autora do estudo com os apaixonados de longa data, diz que a paixão pode ser comparada a um vício. Ela ativa partes do cérebro que integram os “circuitos de recompensa”, aqueles que nos incentivam a conseguir o que causa prazer, sejam doces, jogos de azar ou a pessoa amada. São os mesmos circuitos acionados durante o consumo de drogas. É por isso que romper um relacionamento pode causar uma espécie de crise de abstinência análoga à provocada pela falta de droga no corpo de um adicto.

As transformações químicas causadas pela paixão em geral não duram muito, a não ser em casais especiais, como os estudados recentemente por Helen Fisher. Os cientistas estimam que essas alterações persistam por dois anos. Enzo Emanuele, da Universidade de Pavia, na Itália, mediu o nível dos hormônios relacionados à paixão no sangue de 39 casais juntos há dois anos. E confirmou que eles apresentavam uma concentração menor do que pessoas que declararam estar intensamente apaixonadas. Mas isso não significa que a relação esteja fadada a acabar. É nesse momento que ela pode se transformar em amor, um sentimento mais pleno e menos urgente do que a paixão.

No estudo de Helen Fisher, em parceiros de longa data foram ativadas as regiões do cérebro relacionadas à sensação de calma, enquanto áreas ligadas a sentimentos obsessivos e à ansiedade eram acionadas apenas nos casais recentes. Uma pesquisa da psiquiatra italiana Donatella Marazziti, da Universidade de Pisa, chegou a comparar a paixão ao Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), caracterizado por comportamentos repetitivos e manias. Quando comparados às demais pessoas, os níveis de serotonina, uma substância com efeito calmante, são até 40% mais baixos em quem sofre de TOC. Ou de paixão.

O amor estaria mais relacionado ao tipo de apego que há entre mãe e filho. “O amor maternal e aquele em que homem e mulher compartilham circuitos cerebrais são muito semelhantes”, afirma o neurocientista Jorge Moll Neto, coordenador da Unidade de Neurociência Cognitiva e Comportamental da Rede D’Or de hospitais e laboratórios privados, no Rio de Janeiro. Ambos são moderados pelo hormônio oxitocina, o mesmo liberado em grandes quantidades quando as mulheres amamentam e que cria um laço tão profundo entre mães e filhos. Em uma relação entre homem e mulher, a oxitocina é liberada com o orgasmo. Essa mudança química seria a maneira que a evolução “encontrou” para manter os parceiros que procriaram focados em criar os filhos. Após essa etapa, eles estariam livres de novo para se apaixonar, amar e gerar mais descendentes.

Por enquanto, conhecer a fisiologia das emoções ainda não garante a eficácia dos testes genéticos para encontrar o companheiro ideal nem o desenvolvimento de uma poção do amor. Mas ajuda a entender que é normal a paixão esfriar. Que a dor de um rompimento vai passar assim que a química cerebral acabar. E que estaremos com o coração – e o cérebro – livre para olhar para outro homem de maxilar largo ou para outra mulher de cintura fina. É a nossa natureza.

Um comentário:

  1. já passei da cota dos 2 anos estabelecidos pra ficar apaixonado, e agora? qual é a explicação cienfica pra isso?

    a ciência tem que parar de brincar de Deus e entender que tem um lugar onde ela nunca vai chegar: a maravilhosa e inexplicável consciência humana. ou se não, daqui a uns tempos não seremos mais seres humanos, mas sim robôzinhos controlados pela ciência.
    é claro que, fatores genéticos determinam e explicam muitas coisas, mas só ficam orbitando em especulações sobre o núcleo (ou seja, sobre a alma/consciencia). nunca seremos totalmente compreendidos por nenhuma ciência. porque o viver está nessa incompreensão e nesse vazio de sentido absurdo que é tudo.

    e tenho dito.

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