quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A fórmula do amor eterno pt.3

Assim como essas pesquisas abrem a possibilidade de testes de DNA para a escolha do parceiro, já há estudos que levantam a hipótese de um determinismo genético também na traição. Cientistas do respeitado Instituto Karolinska, na Suécia, publicaram em setembro um estudo que assustou muitos homens. Eles estudaram 552 pares de gêmeos e suas mulheres e constataram que os homens com duas cópias de determinado gene tinham mais chances de se separar, de não estar casados oficialmente ou de ter um relacionamento em que suas parceiras não estivessem satisfeitas. O pedaço de DNA em questão ganhou logo dois apelidos – “gene do bom marido” e “gene do divórcio” (conforme o ponto de vista). Os próprios autores do estudo se apressaram a dizer que é muito cedo para falar em um exame genético que avalie a probabilidade de sucesso de um relacionamento. Afinal, inúmeros outros fatores estão relacionados ao sucesso de uma união além da simples presença ou ausência de um gene. Falta descobrir muito sobre o genoma humano, mas já se sabe que são raras as situações em que um só gene é o único responsável por determinada característica. Nossa aparência, nossa saúde e o funcionamento da nossa mente são em geral determinados por um complicado quebra-cabeça, que envolve não apenas vários genes, mas também a poderosa contribuição do ambiente em que vivemos.

É por esse motivo que nem as empresas que vendem os testes genéticos garantem 100% de acerto em seus testes. Elas não recomendam terminar um relacionamento só porque o exame indicou pouca compatibilidade. Há casais que são ligados por hobbies, religião ou outros interesses em comum. A combinação biológica não é necessariamente o fator preponderante. Embora esses testes tendam a se tornar mais precisos com a evolução dos conhecimentos sobre a química do amor, devem ser encarados como um simples indicador, entre vários outros.

Mesmo que encarássemos a escolha do parceiro ideal como um processo puramente “científico”, a compatibilidade entre genes MHC seria apenas um dos critérios. Do ponto de vista evolutivo, a meta de cada indivíduo é conquistar um companheiro saudável (garantia de bons genes) e com características psicológicas que revelem disposição para ajudar a criar os descendentes (o que asseguraria a sobrevivência da prole). “Como herdeiros de ancestrais que tiveram sucesso ao se reproduzir, cada um de nós carrega essas estratégias de conquista”, afirma o psicólogo americano David Buss, professor da Universidade do Texas e autor de um estudo com 9.400 pessoas, de 37 culturas, que confirmou a universalidade dos atributos buscados em um companheiro.

As características físicas, sem surpresa, parecem ser os estímulos iniciais da paixão. “Elas são bons indicadores de saúde e vigor”, afirma César Ades, pesquisador da Universidade de São Paulo e especialista em comportamento animal. As mulheres prestariam mais atenção ao rosto dos homens do que ao corpo porque a face mostra sinais de virilidade, como maxilares largos e lábios finos. Como eles são esculpidos pela ação da testosterona, um hormônio determinante nos homens, seriam sinais inequívocos de masculinidade. No caso dos homens, cintura fina e quadris largos estariam entre as características mais observadas e desejadas nas mulheres. Um estudo da Universidade do Texas apontou que a cintura (a esbelta, claro) foi a parte do corpo feminino mais citada em obras da literatura inglesa entre os séculos XVI e XVIII, da poesia chinesa do século IV ao século VI e de dois clássicos da literatura indiana entre os séculos I e III da era cristã. A falta da cintura bem marcada denunciaria gordurinhas abdominais, que, segundo alguns estudos, estariam relacionadas à infertilidade. O tamanho ideal da cintura feminina seria 70% da circunferência do quadril.

Ainda é difícil explicar como as dicas da genética e as características físicas e comportamentais consideradas atraentes se transformam em um sentimento arrebatador. Capaz de fazer o coração disparar, a mente não parar de pensar em alguém e que torna um encontro uma necessidade. Mas a ciência já sabe como o cérebro se comporta de acordo com cada emoção. Inclusive o cérebro dos gays. Usando imagens de ressonância magnética, a pesquisadora Ivanka Savic, do Instituto Karolinska, concluiu que o cérebro de mulheres homossexuais apresenta o mesmo padrão de funcionamento de homens heterossexuais. O mesmo vale para mulheres hétero e homens gays. Ao sentir o cheiro de hormônios masculinos, o hipotálamo é acionado no cérebro das mulheres e dos homens gays. Em seu estudo mais recente, Ivanka descobriu que a amígdala, uma região do cérebro associada às emoções, é ativada da mesma maneira tanto nos homens quanto nas lésbicas.

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